O Evangelho Segundo o Espiritismo
por ALLAN KARDEC – tradução de José Herculano Pires
Reconciliar-se com os Adversários
6 – Há na prática do perdão, e na prática do bem,
em geral, além de um efeito moral, um efeito também material. A morte, como se
sabe, não nos livra dos nossos inimigos. Os Espíritos vingativos perseguem
sempre com o seu ódio, além da sepultura, aqueles que ainda são objeto do seu
rancor. Daí ser falso, quando aplicado ao homem, o provérbio: “Morto o cão,
acaba a raiva”. O Espírito mau espera que aquele a quem queira mal esteja
encerrado em seu corpo, e assim menos livre, para mais facilmente o atormentar,
atingindo-o nos seus interesses ou nas suas mais caras afeições. É necessário
ver nesse fato a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo daqueles que
apresentam certa gravidade, como a subjugação e a possessão. O obsedado e o
possesso são, pois, quase sempre, vítimas de uma vingança anterior, a que
provavelmente deram motivo por sua conduta. Deus permite a situação atual, para
os punir do mal que fizeram, ou, se não o fizeram, por haverem faltado com a
indulgência e a caridade, deixando de perdoar. Importa, pois, com vistas à tranquilidade
futura, reparar o mais cedo possível os males que se tenham praticado em
relação ao próximo, e perdoar aos inimigos, para assim se extinguirem, antes da
morte, todos os motivos de desavença, toda causa profunda de animosidade
posterior. Dessa maneira se pode fazer, de um inimigo encarnado neste mundo, um
amigo no outro, ou pelo menos ficar com a boa causa, e Deus não deixa ao sabor
da vingança aquele que soube perdoar. Quando Jesus recomenda que nos
reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não quer apenas
evitar as discórdias na vida presente, mas também evitar que elas se perpetuem
nas existências futuras. Não sairás de lá, disse ele, enquanto não pagares o
último ceitil, ou seja, até que a justiça divina não esteja completamente
satisfeita.
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